O estado do Ceará, desde a década de 1980 entrou no circuito global de produção, através da fruticultura irrigada, condicionando, desse modo, ao processo de reestruturação produtiva dos antigos espaços de reserva, transformando-os em muitos pontos luminosos, como já tratara Milton Santos.
As regiões do baixo Jaguaribe e baixo Acaraú constituíram-se como áreas prioritárias para esse processo de reestruturação produtiva, sobretudo por exprimir-se como espaços seletivos, abrigando condicionantes naturais (clima, solos, disponibilidade hídrica) que favoreceram a inserção nesse novo modelo de produção agrícola, que tem suas bases calcadas na Revolução Verde e no processo de globalização econômica, com vias à obtenção da mais-valia global – motor da vida econômica e social – através da instalação de filiais de empresas multinacionais.
Desse modo, exigindo à aquisição de novos espaços para a propagação dessa lógica vertical de produção agrícola, conduzindo a expansão de tal modelo contraditório, desigual e combinado, como já se Ariovaldo Umbelino de Oliveira.
Destarte, a região do baixo Jaguaribe, sobretudo representada pela Chapada do Apodi, assume posição de destaque dentro desse modelo produtivo em decorrência da presença dos Cambissolos, que são solos derivados de rochas calcárias que compõe parte do arcabouço geológico da bacia sedimentar Potiguar. Esses solos possuem alta fertilidade natural, aliado a irrigação – promovida pela adução das águas do rio Jaguaribe, através de bombeamento na barragem das pedrinhas – e aos incentivos fiscais, faz dessa área de ocupação antiga e espaçada um agropolo de grande lucratividade para o capital privado (nacional e internacional).
Nesse contexto exprimi-se fortes implicações socioambientais, tendo em vista as potencialidades e limitações ambientais, sobretudo representadas pelo contexto pedobioclimático (solo, clima, flora e fauna), bem como pela desestruturação social gerada pela usurpação dos territórios outrora ocupados e que a luz do neoliberalismo expropria, desterritorializa e expulsa os camponeses de seus territórios, condicionando-os ao êxodo rural forçado.
Ressalta-se ainda, a lógica produtiva da monocultura intensiva a base de insumos químicos para o favorecimento da incessante produtividade. Aliado a isso, resulta a superexploração dos recursos naturais, degradação dos solos e da vegetação, poluição e contaminação das águas (superficiais e subterrâneas), que sobre condições climáticas semiáridas ou subúmidas secas pode condicionar ainda ao processo de desertificação em níveis até irreversíveis.
Desse modo, a inserção do Ceará no circuito global de produção por meio da expressão marcante do sistema agrícola moderno, rompe com os modelos tradicionais de produção agrícola, descartando os saberes e fazeres dos camponeses e, causando implicações, talvez irreparáveis na estrutura social e natural, em especial nas áreas de climas secos, deixando somente as “chagas” e os rejeitos da produção, bem como acirrando as desigualdades sociais e os problemas ambientais.
Profª Maria Daniely Freire Guerra